domingo, 28 de abril de 2024

Terça-feira da 5ª semana da Páscoa

São Pio V, Papa
São José Bento Cottolengo, presbítero
 
1ª Leitura (At 14,19-28):
Naqueles dias, chegaram uns judeus de Antioquia e de Icónio, que aliciaram a multidão, apedrejaram Paulo e arrastaram-no para fora da cidade, dando-o por morto. Mas, tendo-se reunido os discípulos à sua volta, ele ergueu-se e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu com Barnabé para Derbe. Depois de terem anunciado a boa nova a esta cidade e de terem feito numerosos discípulos, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a Icónio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos e exortavam-nos a permanecerem firmes na fé, «porque – diziam eles – temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus». Estabeleceram anciãos em cada Igreja, depois de terem feito orações acompanhadas de jejum, e encomendaram-nos ao Senhor em quem tinham acreditado. Atravessaram então a Pisídia e chegaram à Panfília. Depois anunciaram a palavra em Perga e desceram até Atalia. De lá navegaram para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para a obra que acabavam de realizar. À chegada, convocaram a Igreja, contaram tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé. Demoraram-se ali bastante tempo com os discípulos.
 
Salmo Responsorial: 144
R. Aqueles que Vos amam, Senhor, proclamem a glória do vosso reino.
 
Graças Vos deem, Senhor, todas as criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis. Proclamem e glória do vosso reino e anunciem os vossos feitos gloriosos;
 
Para darem a conhecer aos homens o vosso poder, a glória e o esplendor do vosso reino. O vosso reino é um reino eterno, o vosso domínio estende-se por todas as gerações.
 
Cante a minha boca os louvores do Senhor e todo o ser vivo bendiga eternamente o seu nome santo.
 
Aleluia. Cristo tinha de sofrer e ressuscitar dos mortos para entrar na sua glória. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 14,27-31a): «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou. Não se perturbe, nem se atemorize o vosso coração. Ouvistes o que eu vos disse: ‘Eu vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Disse-vos isso agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais. Já não falarei mais convosco, pois vem o chefe deste mundo. Ele não pode nada contra mim. Mas é preciso que o mundo saiba que eu amo o Pai e faço como o Pai mandou».
 
«Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou»
 
Rev. D. Enric CASES i Martín (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, Jesus nos fala indiretamente da cruz: deixara-nos a paz, mas ao preço de sua dolorosa saída deste mundo. Hoje lemos suas palavras ditas antes do sacrifício da Cruz e que foram escritas depois de sua Ressurreição. Na Cruz, com sua morte venceu a morte e ao medo. Não nos dá a paz como a do mundo «Não é à maneira do mundo que eu a dou» (cf. Jo 14,27), senão que o faz passando pela dor e a humilhação: assim demonstrou seu amor misericordioso ao ser humano.
 
Na vida dos homens é inevitável o sofrimento, a partir do dia em que o pecado entrou no mundo. Umas vezes é dor física; outras, moral; em outras ocasiões se trata de uma dor espiritual..., e a todos nos chega a morte. Mas Deus, em seu infinito amor, nos deu o remédio para ter paz no meio da dor: Ele aceitou “ir-se” deste mundo com uma “saída” cheia de sofrimento e serenidade.
 
Por que ele fez assim? Porque, deste modo, a dor humana —unida à de Cristo— se converte em um sacrifício que salva do pecado. «Na Cruz de Cristo (...), o mesmo sofrimento humano ficou redimido» (João Paulo II). Jesus Cristo sofre com serenidade porque satisfaz ao Pai celestial com um ato de custosa obediência, mediante o qual se oferece voluntariamente por nossa salvação.
 
Um autor desconhecido do século II põe na boca de Cristo as seguintes palavras: «Veja as cuspidas no meu rosto, que recebi por ti, para restituir-te o primitivo alento de vida que inspirei em teu rosto. Olha as bofetadas de meu rosto, que suportei para reformar à imagem minha teu aspecto deteriorado. Olha as chicotadas de minhas costas, que recebi para tirar da tua o peso de teus pecados. Olha minhas mãos, fortemente seguras com pregos na árvore da cruz, por ti, que em outro tempo estendeste funestamente uma de tuas mãos à árvore proibida».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«A Paz é um autêntico dom da presença de Jesus no meio da Igreja. Senhor, protege a tua Igreja na tribulação, para que não perca a fé, para que não perca a esperança» (Santo Agostinho)
 
«O que o nosso espírito, quer dizer, o que a nossa alma, é para os nossos membros, assim também o é o Espírito Santo para os membros de Cristo, para o Corpo de Cristo, que é a Igreja» (Francisco)
 
«A paz terrena é imagem e fruto da paz de Cristo, (...). Pelo sangue da sua cruz, Ele, levando em Si próprio a morte à inimizade, reconciliou com Deus os homens e fez da sua Igreja o sacramento da unidade do género humano e da sua união com Deus (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.305)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* Aqui, em Jo 14,27, começa a despedida de Jesus e no fim do capítulo 14, ele encerra a conversa dizendo: “Levantem-se! Vamos embora daqui!" (Jo 14,31).
Mas, em vez de sair da sala, Jesus continua falando por mais três capítulos: 15, 16 e 17. Se você pular estes três capítulos, você vai encontrar no começo do capítulo 18 a seguinte frase: "Tendo dito isto, Jesus foi com seus discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia ali um jardim onde entrou com seus discípulos" (Jo 18,1). Em Jo 18,1, está a continuação de Jo 14,31. O Evangelho de João é como um prédio bonito que foi sendo construído lentamente, pedaço por pedaço, tijolo por tijolo. Aqui e acolá, ficaram sinais destes remanejamentos. De qualquer maneira, todos os textos, todos os tijolos, fazem parte do edifício e são Palavra de Deus para nós.
 
* João 14,27: O dom da Paz. Jesus comunica a sua paz aos discípulos. A mesma paz será dada depois da ressurreição (Jo 20,19). Esta paz é mais uma expressão da manifestação do Pai, de que Jesus tinha falado antes (Jo 14,21). A paz de Jesus é a fonte da alegria que ele nos comunica (Jo 15,11; 16,20.22.24; 17,13). É uma paz diferente da paz que o mundo dá, diferente da Pax Romana. Naquele fim do primeiro século a Pax Romana era mantida pela força das armas e pela repressão violenta contra os movimentos rebeldes. A Pax Romana garantia a desigualdade institucionalizada entre cidadãos romanos e escravos. Esta não é a paz do Reino de Deus. A Paz que Jesus comunica é o que no AT se chama Shalom. É a organização completa de toda a vida em torno dos valores da justiça, fraternidade e igualdade.
 
* João 14,28-29: O motivo por que Jesus volta ao Pai. Jesus volta ao Pai para poder retornar em seguida. Ele dirá a Madalena: “Não me segure, porque ainda não subi para o Pai “ (Jo 20,17). Subindo para o Pai, ele voltará através do Espírito que nos enviará (cf Jo 20,22). Sem o retorno ao Pai ele não poderá estar conosco através do seu Espírito.
 
* João 14,30-31a: Para que o mundo saiba que amo o Pai. Jesus está encerrando a última conversa com os discípulos. O príncipe deste mundo vai tomar conta do destino de Jesus. Jesus vai ser morto. Na realidade, o Príncipe, o tentador, o diabo, nada pode contra Jesus. Jesus faz em tudo o que lhe ordena o Pai. O mundo vai saber que Jesus ama o Pai. Este é o grande e único testemunho de Jesus que pode levar o mundo a crer nele. No anúncio da Boa Nova não se trata de divulgar uma doutrina, nem de impor um direito canônico, nem de unir todos numa organização. Trata-se, antes de tudo, de viver e de irradiar aquilo que o ser humano mais deseja e tem de mais profundo dentro de si: o amor. Sem isto, a doutrina, o direito, a celebração não passam de peruca em cabeça calva.
 
* João 14,31b: Levantem-se e vamos embora daqui. São as últimas palavras de Jesus, expressão da sua decisão de ser obediente ao Pai e de revelar o seu amor. Na eucaristia, na hora da consagração, em alguns países se diz: “Na véspera da sua paixão, voluntariamente aceita”. Jesus diz em outro lugar: “O Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la de novo. Ninguém tira a minha vida; eu a dou livremente. Tenho poder de dar a vida e tenho poder de retomá-la. Esse é o mandamento que recebi do meu Pai” (Jo 10,17-18).
 
Para confronto pessoal
1) Jesus disse: “Dou-vos a minha paz”. Como contribuo para a construção da paz na minha família e na minha comunidade?
2) Olhando no espelho da obediência de Jesus ao Pai, em que ponto eu poderia melhorar a minha obediência ao Pai?

sábado, 27 de abril de 2024

Segunda-feira da 5ª semana da Páscoa

Sta. Catarina de Sena, virgem e doutora da Igreja
Bto. Nicolau de Narbonne, Presbítero e 8º Prior Geral de nossa Ordem
 
1ª Leitura (At 14,5-18):
Naqueles dias, surgiu em Icônico um movimento, da parte dos pagãos e dos judeus, com os seus chefes, para maltratar e apedrejar Barnabé e Paulo. Conscientes da situação, estes refugiaram-se nas cidades da Licaônia, Listra, Derbe e seus arredores, onde começaram a anunciar a boa nova. Havia em Listra um homem inválido dos pés, coxo de nascença, que nunca tinha podido andar. Um dia em que escutava as palavras de Paulo, este fixou nele os olhos e, vendo que tinha fé para ser curado, disse-lhe com voz forte: «Levanta-te e põe-te direito sobre os pés». Ele levantou-se e começou a andar. Ao ver o que Paulo tinha feito, a multidão exclamou em licaônico: «Os deuses tomaram forma humana e desceram até nós». A Barnabé chamavam Zeus e a Paulo Hermes, porque era este que falava. Então o sacerdote do templo de Zeus, que estava à entrada da cidade, trouxe touros e grinaldas para as portas do templo e, juntamente com a multidão, pretendia oferecer-lhes um sacrifício. Quando souberam isto, os apóstolos Barnabé e Paulo rasgaram as túnicas e precipitaram-se para a multidão, clamando: «Amigos, que fazeis? Nós somos homens como vós e vimos anunciar-vos que deveis abandonar estes ídolos e voltar-vos para o Deus vivo, que fez o céu, a terra e o mar e tudo o que neles existe. Nas gerações passadas, permitiu que todas as nações seguissem os seus caminhos. Mas nem por isso deixou de dar testemunho da sua generosidade, concedendo-vos do céu as chuvas e estações férteis, para saciar de alimento e felicidade os vossos corações». Com estas palavras, a custo impediram a multidão de lhes oferecer um sacrifício.
 
Salmo Responsorial: 113
R. Glória, Senhor, ao vosso nome!
 
Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória, pela vossa misericórdia e fidelidade, porque diriam os povos: «Onde está o seu Deus?»
 
O nosso Deus está no céu, faz tudo o que Lhe apraz. Os ídolos dos gentios são ouro e prata, são obra das mãos dos homens.
 
Bendito seja o Senhor, que fez o céu e a terra. O céu é a morada do Senhor; a terra, deu-a aos filhos dos homens.
 
Aleluia. O Espírito Santo vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 14,21-26): «Quem acolhe e observa os meus mandamentos, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele». Judas, não o Iscariotes, perguntou-lhe: «Senhor, como se explica que tu te manifestarás a nós e não ao mundo?». Jesus respondeu-lhe: «Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras. E a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou. Eu vos tenho dito estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito».
 
«Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito»
 
Rev. D. Norbert ESTARRIOL i Seseras (Lleida, Espanha)
 
Hoje, Jesus mostra-nos o seu imenso desejo de que participemos da sua plenitude. Incorporados nele, estamos na fonte da vida divina que é a Santíssima Trindade. «Deus está contigo. Na tua alma habita, em graça, a Beatíssima Trindade. —Por isso, tu, apesar das tuas misérias, podes e deves estar em contínuo diálogo com o Senhor» (São Josemaria).
 
Jesus assegura que estará presente em nós pela graça divina que habita na alma. Assim, os cristãos já não somos órfãos. Já que nos ama tanto, apesar de não necessitar de nós, não quer prescindir de nós.
 
«Quem acolhe e observa os meus mandamentos, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele» (Jo 14,21). Este pensamento ajuda-nos a ter presença de Deus. Então, não têm lugar outros desejos ou pensamentos que, pelo menos, às vezes, nos fazem perder o tempo e nos impedem de cumprir a vontade divina. Eis uma recomendação de São Gregório Magno: «Que não nos seduza o elogio da prosperidade, porque é um caminhante tonto aquele que vê, durante o seu caminho, prados deliciosos e se esquece para onde queria ir».
 
A presença de Deus no coração nos ajudará a descobrir e realizar neste mundo os planos que a Providência nos tenha atribuído. O Espírito do Senhor suscitará no nosso coração iniciativas para situá-las no vértice de todas as atividades humanas e tornar presente, assim, Cristo no alto da terra. Se tivermos esta intimidade com Jesus chegaremos a ser bons filhos de Deus e nos sentiremos seus amigos em todos os lugares e momentos: na rua, no meio do trabalho quotidiano, na vida familiar.
 
Toda a luz e o fogo da vida divina se derramarão sobre cada um dos fiéis que estejam dispostos a receber o dom do interior. A Mãe de Deus intercederá —como nossa mãe que é — para que penetremos neste tratado com a Santíssima Trindade.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Que quando Ele vier encontre aberta a porta da tua morada, abre a tua alma a Ele, estende o interior da tua mente para que possas contemplar nela riquezas de justiça, tesouros de paz, suavidade de graça» (Santo Ambrósio)
 
«Jesus anuncia a vinda do Espírito que, em primeiro lugar, ensinará os discípulos a compreender cada vez mais plenamente o Evangelho, a acolhê-lo na sua existência e a torná-lo vivo com o seu testemunho» (Francisco)
 
«O Espírito e a Igreja cooperam para manifestar Cristo e a sua obra de salvação na liturgia. Principalmente na Eucaristia, que é o memorial do mistério da salvação. O Espírito Santo é a memória viva da Igreja (16)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.099)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O capítulo 14 do Evangelho de João é um exemplo bonito de como se praticava a catequese nas comunidades da Ásia Menor no fim do primeiro século.
Através das perguntas dos discípulos e das respostas de Jesus, os cristãos formavam sua consciência e encontravam uma orientação para os seus problemas. Assim, neste capítulo 14, temos a pergunta de Tomé com a resposta de Jesus (Jo 14,5-7), a pergunta de Filipe com a resposta de Jesus (Jo 14,8-21), e a pergunta de Judas com a resposta de Jesus (Jo 14,22-26). A última frase da resposta de Jesus a Filipe (Jo 14,21) forma o primeiro versículo do evangelho de hoje.
 
* João 14,21: Eu o amarei e me manifestarei a ele. Este versículo traz o resumo da resposta de Jesus a Filipe. Filipe tinha dito: “Mostra-nos o Pai e isso nos basta!” (Jo 14,8). Moisés tinha perguntado a Deus: “Mostra-me a tua glória!” (Ex 33,18). Deus respondeu: “Não poderás ver minha face, porque ninguém pode ver-me e continuar vivendo” (Ex 33,20). O Pai não pode ser mostrado. Deus habita uma luz inacessível (1Tim 6,16). “Ninguém jamais viu a Deus” (1Jo 4,12). Mas a presença do Pai pode ser experimentada através da experiência do amor. Diz a primeira carta de São João: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”. Jesus diz a Filipe: “Quem aceita os meus mandamentos e a eles obedece, esse é que me ama. E quem me ama, será amado por meu Pai. Eu também o amarei e me manifestarei a ele”. Observando o mandamento de Jesus, que é o mandamento do amor ao próximo (Jo 15,17), a pessoa mostra o seu amor por Jesus. E quem ama a Jesus, será amado pelo Pai e pode ter a certeza de que o Pai se manifestará a ele. Na resposta a Judas, Jesus dirá como acontece esta manifestação do Pai na nossa vida.
 
* João 14,22: A pergunta de Judas, pergunta de todos. A pergunta de Judas: “Por que o senhor se manifesta só a nós e não ao mundo?” Esta pergunta de Judas reflete um problema que é real até hoje. Às vezes, sobe em nós cristãos o pensamento de que somos melhores que os outros e que Deus nos ama mais do que os outros. Será que Deus faz distinção de pessoas?
 
* João 14,23-24: Resposta de Jesus.  A resposta de Jesus é simples e profunda. Ele repete o que acabou de dizer a Filipe. O problema não é se nós cristãos somos mais amados por Deus do que os outros, ou que os outros são desprezados por Deus. Este não é o critério da preferência do Pai. O critério da preferência do Pai é sempre o mesmo: o amor. "Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará. Eu e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras”. Independentemente do fato de a pessoa ser ou não ser cristã, o Pai se manifesta a todos aqueles que observam o mandamento de Jesus que é o amor ao próximo (Jo 15,17). Em que consiste a manifestação do Pai? A resposta a esta pergunta está estampada no coração da humanidade, na experiência humana universal. Observe a vida das pessoas que praticam o amor e que fazem da sua vida uma doação aos outros. Examine a sua própria experiência. Independentemente de religião, classe, raça ou cor, a prática do amor traz uma paz profunda e uma alegria que conseguem conviver com dor e sofrimento. Esta experiência é o reflexo da manifestação do Pai na vida das pessoas. É a realização da promessa: Eu e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada.
 
* João 14,25-26: A promessa do Espírito Santo. Jesus termina sua resposta a Judas dizendo: Essas são as coisas que eu tinha para dizer estando com vocês. Jesus comunicou tudo que ouviu do Pai (Jo 15,15). As palavras dele são fonte de vida e devem ser meditadas, aprofundadas e atualizadas constantemente à luz da realidade sempre nova que nos envolve. Para esta meditação constante das suas palavras Jesus nos promete a ajuda do Espírito Santo: “O Advogado, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ele ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu lhes disse.
 
Para confronto pessoal
1) Jesus disse: Eu  e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada.  Como eu experimento esta promessa?
2) Temos a promessa do dom do Espírito para nos ajudar a entender as palavra de Jesus. Eu invoco a luz do Espírito quando vou ler e meditar a Escritura?

sexta-feira, 26 de abril de 2024

29 de abril

 
Beato Nicolau de Narbonne
Presbítero e 8º Prior Geral de nossa Ordem
(1266 – 1271)
 
Nicolau da França ou Nicolau de Narbonne († 1280 ou 1282) Carmelita, sucessor de S. Simão Stock foi Geral da Ordem, e autor da “Ignea Sagitta” (Flecha de Fogo), que é uma das obras fundamentais da espiritualidade carmelita e na qual defende a volta da Ordem à espiritualidade do deserto vivida pelos primeiros eremitas e que, segundo ele, seus irmãos haviam abandonado em favor do apostolado urbano, afirmando que a contemplação é impossível em meio ao barulho e confusão. Morreu no dia 29 de abril de 1280 ou 1281.
 
Salmodia, leitura, Responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Senhor, que destes ao Beato Nicolau, a graça de imitar fielmente a Cristo pobre e humilde, fazei que também nós, vivendo plenamente a nossa vocação, no meio das vicissitudes temporais, abracemos de todo o coração as realidades eternas e   caminhemos para a santidade perfeita, à imagem de Jesus Cristo, vosso Filho, Ele que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.

V Domingo da Páscoa

São Luís Maria Grignion de Montfort, presbítero
Bta Maria Felícia de Jesus Sacramentado, virgem de nossa Ordem
Santa Gianna Beretta Molla, mãe de família
 
1ª Leitura (At 9,26-31):
Naqueles dias, Saulo chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos. Mas todos o temiam, por não acreditarem que fosse discípulo. Então, Barnabé tomou-o consigo, levou-o aos Apóstolos e contou-lhes como Saulo, no caminho, tinha visto o Senhor, que lhe tinha falado, e como em Damasco tinha pregado com firmeza em nome de Jesus. A partir desse dia, Saulo ficou com eles em Jerusalém e falava com firmeza no nome do Senhor. Conversava e discutia também com os helenistas, mas estes procuravam dar-lhe a morte. Ao saberem disto, os irmãos levaram-no para Cesareia e fizeram-no seguir para Tarso. Entretanto, a Igreja gozava de paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e vivendo no temor do Senhor e ia crescendo com a assistência do Espírito Santo.
 
Salmo Responsorial: 21
R. Eu Vos louvo, Senhor, na assembleia dos justos.
 
Cumprirei a minha promessa na presença dos vossos fiéis. Os pobres hão de comer e serão saciados, louvarão o Senhor os que O procuram: vivam para sempre os seus corações.
 
Hão de lembrar-se do Senhor e converter-se a Ele todos os confins da terra; e diante d’Ele virão prostrar-se todas as famílias das nações.
 
Só a Ele hão de adorar todos os grandes do mundo, diante d’Ele se hão de prostrar todos os que descem ao pó da terra.
 
Para Ele viverá a minha alma, há-de servi-lo a minha descendência. Falar-se-á do Senhor às gerações vindouras e a sua justiça será revelada ao povo que há-de vir: «Eis o que fez o Senhor».
 
2ª Leitura (1Jo 3,18-24): Meus filhos, não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade. Deste modo saberemos que somos da verdade e tranquilizaremos o nosso coração diante de Deus; porque, se o nosso coração nos acusar, Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas. Caríssimos, se o coração não nos acusa, tenhamos confiança diante de Deus e receberemos d’Ele tudo o que Lhe pedirmos, porque cumprimos os seus mandamentos e fazemos o que Lhe é agradável. É este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou. Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele. E sabemos que permanece em nós pelo Espírito que nos concedeu.
 
Aleluia. Diz o Senhor: «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós; quem permanece em Mim dá muito fruto». Aleluia.
 
Evangelho (Jo 15,1-8): «Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que vos falei. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim será lançado fora, como um ramo, e secará. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se permanecerdes em mim, e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos».
 
«Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto»
 
Rev. D. Joan MARQUÉS i Suriñach (Vilamarí, Girona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho apresenta-nos a alegoria da videira e os ramos. Cristo é a verdadeira videira, nós somos os ramos e o Pai o agricultor.
 
O Pai pretende que demos fruto. É logico. Um agricultor semeia a videira e a cultiva para que produza fruto abundante. Se criarmos uma empresa, vamos querer que produza. Jesus insiste: «Fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes fruto» (Jo 15,16).
 
És um escolhido. Deus te olhou. Pelo Batismo te enxertou na videira que é Cristo. Tu tens a vida de Cristo, a vida cristã. Possuis o elemento principal para dar fruto: a união com Cristo, porque «o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira» (Jo 15,4). Jesus o disse taxativamente: «sem mim, nada podeis fazer» (Jo 15,5). «Sua força é suavidade; nada tão brando como isto, e nada como isto tão firme» (São Francisco de Sales). Quantas coisas quiseste fazer afastado de Cristo? O fruto que o Pai espera de nós é aquele das boas obras, da prática das virtudes. Qual é a união com Cristo que nos faz capazes de dar este fruto? A fé e a caridade, ou seja, permanecer em graça de Deus.
 
Quando vives em graça, todos os atos de virtude são frutos agradáveis ao Pai. São obras que Jesus Cristo faz através de ti. São obras de Cristo que dão glória ao Pai e convertem-se em céu para ti. Vale a pena viver sempre em graça de Deus! «Quem não permanecer em mim [pelo pecado] será lançado fora, como um ramo, e secará; depois (…) são lançados ao fogo e queimados» (Jo 15,6). É uma clara alusão ao inferno. Eres como um ramo cheio de vida?
 
Que a Virgem Maria nos ajude a aumentar a graça para produzirmos frutos em abundância que deem glória ao Pai.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Tornar-se semelhante a Deus não é obra nossa, nem fruto do poder humano, é obra da generosidade de Deus, que desde a sua origem ofereceu à nossa natureza a graça da semelhança com Ele» (São Gregório de Nisa)
 
«A videira, como atributo cristológico, significa a união indissolúvel de Jesus com os seus» (Bento XVI)
 
«Sendo Cristo, enviado do Pai, a fonte e a origem de todo o apostolado da Igreja, é evidente que a fecundidade do apostolado (…) depende da sua união vital com Cristo. Segundo as vocações, (…) o apostolado toma as formas mais diversas. Mas é sempre a caridade (…) a alma de todo o apostolado» (Catecismo da Igreja Católica, nº 864)
 
“Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor.”
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal
 
*
Estes poucos versículos fazem parte do grande discurso de Jesus aos seus discípulos no momento íntimo da Última Ceia e começa com o versículo 3 do capítulo 13 prolongando-se até ao fim do capítulo 17. Trata-se de uma unidade muito estreita, profunda e indissolúvel, que não tem par nos outros evangelhos e que recapitula em si toda a revelação de Jesus na vida divina e no mistério da Santíssima Trindade; é o texto que diz o que nenhum outro texto da Sagrada Escritura é capaz de dizer em relação à vida cristã, à sua força, aos seus deveres, às suas alegrias e dores, às suas esperanças e à sua luta neste mundo e na Igreja. São poucos versículos, mas transbordam de amor, daquele amor até ao fim, que Jesus decidiu viver com os seus, conosco, hoje e sempre. Pela força deste amor, como supremo e definitivo gesto de ternura infinita, que sintetiza em si todos os outros gestos de amor, o Senhor deixa aos seus uma presença nova, um modo novo de existir: através da parábola da vide e dos seus sarmentos e através do maravilhoso verbo permanecer, muitas vezes repetido, Jesus dá início a esta história nova com cada um de nós, que se chama inabitação. Ele não pode ficar junto de nós porque volta para o Pai, mas permanece dentro de nós.
 
Para ajudar na leitura da passagem
 
vv. 1-3: Jesus revela-se a si mesmo como a verdadeira vide, que produz bons frutos, óptimo vinho para o seu Pai, que é o agricultor, e revela-nos a nós, seus discípulos, como sarmentos, que têm necessidade de permanecer unidos à vide para não morrer e dar fruto. A poda, que o Pai realiza sobre os sarmentos através da espada da sua Palavra, é uma purificação, um gozo, um canto.
 
vv. 4-6: Jesus assinala aos seus discípulos o segredo para que possam continuar a viver esta relação íntima com Ele: é permanecer. Como Ele entra dentro deles e permanece neles e nunca mais fica fora, assim também eles devem permanecer n'Ele, dentro d'Ele; este é o único modo para ser plenamente consolados, para poder resistir no caminho da vida e para poder dar o bom fruto, que é o amor.
 
v. 7: Jesus, uma vez mais, deixa no coração dos seus, o dom da oração, a pérola preciosíssima, única, e explica-nos que permanecendo n'Ele, poderemos aprender a verdadeira oração, a que pede com insistência o dom do Espírito Santo e que sabe que será escutada.
 
v. 8: Jesus chama-nos uma vez mais a Ele, pede-nos que o sigamos, para nos tornarmos e ser sempre seus discípulos. O permanecer faz nascer a missão, o dom da vida pelo Pai e pelos irmãos; se permanecermos verdadeiramente em Jesus, permaneceremos também no meio dos irmãos, como dom e como serviço. Esta é a glória do Pai.
 
Algumas perguntas
 
a) “Eu sou”: é muito belo que a passagem comece com esta afirmação, que é como um canto de alegria, de vitória do Senhor, que Ele gosta de cantar continuamente dentro da vida de cada um de nós. “Eu sou”: e repete-o ao infinito, cada manhã, cada tarde, quando chega a noite, enquanto dormimos e mesmo quando d'Ele não nos lembramos. Ele vive em função de nós: existe para seu Pai, por nós e para nós. Repouso sobre estas palavras e não só as escuto, mas faço-as chegar dentro de mim, à minha mente, ao mais recôndito da minha memória, ao meu coração, a todos os meus sentimentos e retenho-as para ruminá-las e absorver aquele seu Ser no meu ser. Nesta Palavra, eu compreendo que não existo se não existir n’Ele e que não me posso tornar coisa alguma a não ser que permaneça no ser de Jesus. Procuro descer ao mais profundo do meu ser, vencendo os medos, atravessando toda a obscuridade que possa encontrar e recolho aquela parte do meu ser, do meu eu, que sinto sem vida. Tomo-a nas minhas mãos e levo-a a Jesus, entrego-a ao seu “Eu sou”.
 
b) A vide traz-me à mente o vinho, esse fruto tão bom e precioso, faz-me pensar na aliança que Jesus realiza conosco, nova e eterna, aliança de amor, que nada nem ninguém poderá romper. Estou disposto a permanecer dentro deste abraço, dentro deste sim contínuo da minha vida, que se deixa entrelaçar com a sua? Levantarei também eu, como o salmista, o cálice da aliança, invocando o nome do Senhor e dizendo-lhe que sim, que o amo?
 
c) Jesus chama a seu Pai “agricultor” ou “vinhateiro”, utilizando um termo muito belo que leva dentro de si toda a força do amor de quem se dedica ao cultivo da terra; expressa um curvar-se sobre a terra, um acercar-se do corpo e do ser, um contacto prolongado, um intercâmbio vital. O Pai faz exatamente isto conosco. São Paulo diz: “O agricultor, que se afadiga, deve ser o primeiro a recolher os frutos da terra” (2Tim 2, 6) e São Tiago recorda-nos que “o agricultor espera pacientemente os frutos da terra (Tg 5, 7). Desiludirei, eu terra, a esperança do Pai que me cultiva cada dia, cavando a terra, limpando-me das pedras, colocando bom fertilizante e construindo uma vala em redor, para que eu permaneça protegido? A quem entrego os frutos da minha existência? Para que existo eu, para quem decido e escolho o viver de cada dia, de cada manhã, quando me levanto?
 
d) Sigo com atenção o texto e sublinho dois verbos, que se repetem com muita frequência: “dar fruto” e “permanecer”; entendo que estas duas realidades são símbolo da mesma vida e estão  entrelaçadas, uma depende da outra. Somente permanecendo é possível dar fruto e, na realidade, o único e verdadeiro fruto que nós, seus discípulos, podemos dar neste mundo é precisamente o permanecer. Onde permaneço eu, em cada dia, durante todo o dia? Com quem permaneço? Jesus une sempre este verbo a esta partícula estupenda, gigantesca: “em Mim”. Confronto-me com estas duas palavras: eu estou “em”, ou seja, estou dentro, vivo no mais profundo, escavo para buscar o Senhor, como se escava para fazer um poço (cf. Gen 26, 18) ou para procurar um tesouro (cf. Prov 2, 4), ou antes, estou fora, sempre disperso nas diversas superfícies deste mundo, longe o mais possível da intimidade, da relação e do contacto com o Senhor?
 
e) Por duas vezes Jesus coloca-nos diante da realidade da sua Palavra que nos mostra que é ela que nos torna puros e nos abre o caminho da oração verdadeira. A Palavra é-nos anunciada e se nos dá como presença permanente em nós. Também ela, na verdade, tem a capacidade de permanecer, de construir a sua casa no nosso coração. Devo perguntar-me: que ouvidos tenho eu para escutar este anúncio de salvação e de bem, que o Senhor me envia através da sua Palavra? Deixo espaço à escuta, a esta escuta profunda, da qual toda a Sagrada Escritura me fala continuamente na Lei, nos Profetas, nos Salmos, nos Escritos apostólicos? Deixo-me encontrar e alcançar até ao coração pela Palavra do Senhor na oração, ou prefiro fiar-me de outras palavras, mais suaves, mais humanas, semelhantes às minhas? Tenho medo da voz do Senhor, que me fala urgentemente e sempre?

* Como sarmento, procuro o modo de estar sempre mais enxertado na minha Vide, que é o Senhor Jesus.
Bebo, neste momento, da sua Palavra, da sua seiva boa, procurando penetrar mais em profundidade para absorver o alimento escondido, que me dá a verdadeira vida. Estou atento às palavras, aos verbos, às expressões que Jesus usa e que me enviam para outras passagens das divinas Escrituras e deixo-me, deste modo, purificar.
 
* O encontro com Jesus, o “Eu Sou”. Esta passagem apresenta-nos um dos textos em que aparece esta expressão tão forte, que o Senhor nos envia para revelar-se a si mesmo. É muito belo fazer um longo passeio pela Escritura à procura de outros textos como este, em que a voz do Senhor nos fala assim diretamente dele, da sua essência mais profunda. Quando o Senhor diz e repete até ao infinito, de mil maneiras, de mil formas diferentes “Eu Sou”, não o faz para nos rebaixar ou humilhar, mas para reforçar fortemente o seu amor transbordante por nós, que deseja fazer-nos participar e viver dessa mesma vida que lhe pertence. Se diz “Eu Sou”, é para dizer também: “Tu És”, e dizê-lo a cada um de nós, a todo o seu filho e filha que vem a este mundo. É uma transmissão fecunda e ininterrupta de ser, de essência, e eu não quero deixá-la cair no vazio, mas quero acolhê-la e recolhê-la dentro de mim. Sigo, pois, as pegada luminosa do “Eu Sou” e procuro parar a cada passo. “Eu sou o teu escudo” (Gen 15, 1), “Eu sou o Deus de Abraão teu pai” (Gen 24, 26, “Eu sou o Senhor, que te livrou e te livrará do Egipto” (Ex 6, 6), e de qualquer faraó, que atente contra a vossa vida, “Eu sou o que te cura” (Ex 15, 26). Deixo-me envolver pela luz e pela força destas palavras, que realizam o milagre do que dizem: realizam-no hoje também, precisamente para mim, nesta lectio. Continuo e leio no livro do Levítico, pelo menos 50 vezes, esta afirmação de salvação: “Eu sou o Senhor” e creio nesta palavra e adiro a ela com todo o meu ser e com o meu coração digo: “Sim, na verdade o Senhor é o meu Senhor, fora dele não há outro”. Noto que a Escritura aprofunda cada vez mais, à medida que o caminho avança, também ela avança dentro de mim e conduz-me a uma relação sempre mais intensa com o Senhor; o livro dos Números começa por dizer: “Eu sou o Senhor que moro no meio dos Israelitas” (Num 35, 34). “Eu sou” é o que está presente, aquele que não se afasta, que não vira as costas e se vai; é aquele que de perto cuida de nós, desde dentro, como só Ele pode fazê-lo: leio Isaías e recebo vida: 41, 10; 43, 3; 45, 6, etc.
 
* O santo Evangelho é uma explosão de ser, de presença, de salvação; percorro-o deixando-me guiar sobretudo por João: 6, 48; 8, 12; 10, 9.11; 11, 15; 14, 6; 18, 37. Jesus é o pão, a luz, a porta, o pastor, a ressurreição, o caminho, a verdade, a vida, é o rei; e tudo isto por mim, por nós, e assim quero acolhê-lo, conhecê-lo, amá-lo e quero aprender, dentro destas palavras, a dizer-lhe: “Senhor, Tu és!”. É este “Tu” que dá significado ao meu eu, que faz da minha vida uma relação, uma comunhão; sei com certeza que só aqui eu gozo plenamente e vivo para sempre.
 
* A vinha, a vide e o bom fruto. Israel é a vinha de Deus, vinha predileta, escolhida, plantada sobre uma fértil colina, num lugar com terra límpida, lavrada, livre de pedras, guardada, cuidada, amada, estendida que o próprio Deus plantou (cf. Is 5, 1s; Jer 2, 21). Esta vinha é tão amada que nunca deixou de ressoar para ela o cântico de amor do seu amado; notas fortes e doces ao mesmo tempo, notas portadoras de vida verdadeira que atravessaram a antiga aliança e chegaram, ainda mais claras, à nova aliança. Primeiro cantava o Pai, agora canta Jesus, mas nos dois é a voz do Espírito que se faz sentir, como diz o Cântico dos Cânticos: “A voz da rola já se ouve... e as vinhas floridas exalam perfume” (Ct 2, 12s). É o Senhor Jesus que nos atrai, que nos leva do antigo ao novo, de amor em amor, para uma comunhão sempre mais forte até à identificação: “Eu sou esta vinha, mas sou-o também vós em mim”. Portanto, está claro: a vinha é Israel, é Jesus e somos nós. Sempre a mesma, sempre nova, sempre mais eleita e predileta, amada, cuidada, custodiada, visitada: visitada pelas chuvas e visitada com a Palavra; enviada diariamente pelos profetas, visitada com o envio do Filho, o Amor, que espera amor, ou seja, o fruto. “Ele esperou que produzisse uvas, mas só deu agraços” (Is 5, 2); no amor a desilusão está sempre à espreita. Detenho-me sobre esta realidade, olho para dentro de mim e procuro o lugar de fechamento, de aridez, de morte. Por que é que a chuva não veio? Repito a mim mesmo estas palavras, que ressoam frequentemente nas páginas bíblicas: “O Senhor espera....” (cf. Is 30, 18; Lc 13, 6-9). Quer o fruto da conversão (cf. Mt 3, 8), como nos manda dizer pela boca de João; os frutos da palavra, que nascem da escuta, do acolhimento e da sua guarda, como nos dizem os sinópticos (cf. Mt 13, 23; Mc 4, 20: Lc 8, 15), os frutos do Espírito, como explica São Paulo (cf. Gal 5, 22). “Quer que levemos fruto de toda a espécie de boas obras” (Col 1, 10), mas sobretudo, parece-me, o Senhor espera e deseja “o fruto do ventre” (cf. Lc 1, 42), ou seja, Jesus, por quem somos verdadeiramente benditos e ditosos. Jesus, com efeito, é a semente que, morrendo, dá muito fruto dentro de nós, na nossa vida (cf. Jo 12, 24) e desafia toda a solidão, fechamento, lançando-nos para os irmãos. Este é o fruto verdadeiro da conversão, semeado na terra do nosso ventre; isto é tornar-se seus discípulos e, enfim, esta é a verdadeira glória do Pai.
 
* A poda como purificação que dá gozo. Nesta passagem evangélica, o Senhor oferece-me outro caminho que devo percorrer atrás d'Ele e com Ele: é um caminho de purificação, de renovação, de ressurreição e vida nova: está oculto pela palavra podar, mas posso descobri-lo melhor, de iluminá-lo, graças à sua própria Palavra, que é a única mestra, a única guia segura. O texto grego usa o termo “purificar”, para indicar esta ação do podador sobre as suas vides; é verdade, Ele poda, corta com a espada afiada da sua Palavra (cf. Hb 4, 12) que, por vezes, nos faz sangrar; mas o seu amor permanece, penetra cada vez mais para nos purificar e refinar. Sim, o Senhor senta-se como lavandeiro para purificar, ou é como o ourives para tornar mais resplandecente e luminoso o ouro que tem nas suas mãos (cf. Mal 3, 3). Jesus traz consigo uma purificação nova, a prometida desde há muito tempo pelas Escrituras e esperada para os tempos messiânicos. Não é uma purificação que se alcança mediante o culto, a observância da lei ou sacrifícios, purificação somente provisória, incompleta, temporal e figurada. Jesus realiza uma purificação íntima, total, a do coração e da consciência como cantava Ezequiel: “Purificar-vos-ei de todos os vossos ídolos; dar-vos-ei um coração novo... Quando eu vos purificar de todas as vossas iniquidades, farei que habiteis nas vossas cidades e as vossas ruínas serão reconstruídas...” (Ez 36, 25ss.33). Leio também em Ef 5, 26 e Tt 2, 14, muito bons e grandes testemunhos, que me ajudam a entrar melhor dentro da luz e da graça desta obra de salvação, desta poda espiritual que o Pai realiza em mim.
 
* Há um versículo do Cântico dos Cânticos que me pode ajudar a compreender ainda melhor e que diz assim: “O tempo do canto voltou” (Ct 2, 12), usando, contudo, um verbo que significa ao mesmo tempo “podar”, “cortar” e “cantar”. Portanto, a poda é tempo de canto, de gozo. É o meu coração que canta, diante e dentro da Palavra, é a minha alma que se regozija, pela fé, porque sei que através desta longa e magnífica peregrinação pelas Escrituras, também eu me torno participante da vida de Jesus, consigo unir-me a Ele, o puro, o santo, o Verbo imaculado e permanecendo n'Ele, sou lavado, purificado com a infinita pureza da sua vida. Não para mim, não para permanecer só, mas para dar muito fruto, para ser sarmento. Junto a outros sarmentos, na vida de Jesus Cristo.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

28 de abril

 
Bta Maria Felícia de Jesus Sacramentado
Virgem de nossa Ordem
 
Maria Felicia Guggiari Echeverría, chamada Chiquitunga, nasceu aos 12 de janeiro de 1925 em Villarrica del Espíritu Santo, Paraguai. Aos 16 anos se incorpora na Ação Católica e é nomeada responsável pelo setor de meninas, chamado “Pequenas”. Neste movimento encontrou um ideal e um objetivo que orientou toda a sua vida. No dia 14 de agosto de 1955, veste o Hábito de Carmelita Descalça com o nome de Maria Felícia de Jesus Sacramentado. Faleceu com 34 anos, em Assunção, no dia 28 de abril de 1959. Sua beatificação foi celebrada em 23 de junho de 2018, em Assunção, sob o pontificado do Papa Francisco.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Deus Eterno e Todo-poderoso, que Vos alegrais em fazer a Vossa morada no coração dos homens e derramastes no coração da Beata Maria Felícia de Jesus Sacramentado o fogo do Vosso amor, levando-a a doar sua juventude no apostolado laical e a imolar-se por todos na vida contemplativa do Carmelo,  ajudai-nos com a vossa graça viver de tal modo que mereçamos ser vossa morada. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.

 

Sábado IV da Páscoa

Nossa Senhora de Montserrat
Santa Zita, virgem
 
1ª Leitura (At 13,44-52):
No segundo sábado em que Paulo e Barnabé estiveram em Antioquia da Pisídia, reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus. Ao verem a multidão, os judeus encheram-se de inveja e responderam com blasfémias às palavras de Paulo. Corajosamente, Paulo e Barnabé declararam: «Era a vós que devia ser anunciada primeiro a palavra de Deus. Mas uma vez que a rejeitais e vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os gentios, porque assim nos mandou o Senhor: ‘Fiz de ti a luz das nações, para levares a salvação até aos confins da terra’». Ao ouvirem isto, os gentios encheram-se de alegria e glorificaram a palavra do Senhor; e todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé. Assim, a palavra do Senhor divulgava-se por toda a região. Mas os judeus instigaram algumas senhoras piedosas mais distintas, bem como os homens principais da cidade, e moveram uma perseguição contra Paulo e Barnabé, expulsando-os do território. Estes sacudiram contra eles a poeira dos pés e seguiram para Icônico. Entretanto, os discípulos ficavam cheios de alegria e do Espírito Santo.
 
Salmo Responsorial: 97
R. Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo pelas maravilhas que Ele operou. A sua mão e o seu santo braço Lhe deram a vitória.
 
O Senhor deu a conhecer a salvação, revelou aos olhos das nações a sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel.
 
Os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai.
 
Aleluia. Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade, diz o Senhor. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 14,7-14): Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: «Se me conhecestes, conhecereis também o meu Pai. Desde já o conheceis e o tendes visto». Filipe disse: «Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta». Jesus respondeu: «Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me conheces? Quem me viu, tem visto o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. Crede-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Crede, ao menos, por causa destas obras. «Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai. E o que pedirdes em meu nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes algo em meu nome, eu o farei».
 
«Eu estou no Pai e que o Pai está em mim»
 
P. Jacques PHILIPPE (Cordes sur Ciel, França)
 
Hoje, estamos convidados a reconhecer em Jesus ao Pai que se nos revela. Filipe expressa uma intuição muito justa: «Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta» (Jo, 14, 8). Ver o Pai é descobrir Deus como origem, como vida que brota, como generosidade, como dom que constantemente renova cada coisa. Do que mais precisamos? Procedemos de Deus, e cada homem e, ainda de que não seja consciente, leva o profundo desejo de voltar a Deus, de reencontrar a casa paterna e permanecer aí para sempre. Hei aqui todos os bens que possamos desejar: A vida, a luz, o amor, a paz... São Inácio de Antioquia, que foi mártir no início do século dizia: «Há em mim um água viva que murmura e disse dentro de mim: Vem ao Pai!».
 
Jesus nos faz entrever a profunda intimidade recíproca que existe entre Ele e o Pai. «Eu estou no Pai e que o Pai está em mim» (Jo 14,11). O que Jesus diz e que faz acha sua fonte no Pai e, o Pai se expressa plenamente em Jesus. Todo o que o Pai deseja nos dizer se encontra nas palavras e nos atos do Filho. Todo o que Ele quer cumprir no nosso favor o cumpre pelo seu Filho. Acreditar no Filho nos permite ter «aceso a Deus» (Ef 2,18).
 
A fé humilde e fiel em Jesus, a eleição de lhe seguir e lhe obedecer, dia trás dia, nos põe em contato misterioso, mas real com o mesmo mistério de Deus e, nos faz beneficiários de todas as riquezas de sua benevolência e misericórdia. Esta fé permite ao Pai levar adiante, através de nós, a obra da graça que começou no seu Filho: «Quem crê em mim fará as obras que eu faço» (Jo 14,12).
 
«E o que pedirdes em meu nome, eu o farei»
 
Rev. D. Iñaki BALLBÉ i Turu (Terrassa, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, quarto Sábado de Páscoa, a Igreja convida-nos a considerar a importância que tem para um cristão, conhecer Cristo cada vez mais. Com que ferramentas contamos para o fazer? Com diversas e, todas elas, fundamentais: a leitura atenta e meditada do Evangelho; nossa resposta pessoal na oração, esforçando-nos para que seja um verdadeiro diálogo de amor, e não um mero monólogo introspectivo, e o desejo renovado diariamente por descobrir Cristo no nosso próximo mais imediato de nós: um familiar, um amigo, um vizinho que talvez necessite da nossa atenção, do nosso conselho, da nossa amizade.
 
«Senhor, mostra-nos o Pai», pede Filipe (Jo 14,8). Uma boa petição para que a repitamos durante todo este Sábado. —Senhor, mostra-me o teu rosto. E podemos perguntar-nos: como é o meu comportamento? Os outros, podem ver em mim o reflexo de Cristo? Em que coisa pequena poderia lutar hoje? Aos cristãos nos é necessário descobrir o que há de divino na nossa tarefa diária, a marca de Deus no que nos rodeia. No trabalho, na nossa vida de relação com os outros. E também se estamos doentes: a falta de saúde é um bom momento para nos identificarmos com Cristo que sofre. Como disse Santa Teresa de Jesus, «Se não nos determinarmos a engolir de uma vez a morte e a falta de saúde, nunca faremos nada».
 
O Senhor no Evangelho assegura-nos: «Se pedirdes algo em meu nome, eu o farei» (Jo 14,13). —Deus é o meu Pai, que vela por mim como um Pai amoroso: não quer para mim nada de mau. Tudo o que passa —tudo o que me passa— é para o bem da minha santificação. Ainda que, com o olhos humanos, não o entendamos. Ainda que não o entendamos nunca. Aquilo —o que quer que seja – Deus o permite. Confiemos nele da mesma maneira que confiou Maria.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Oremos como Deus, nosso mestre, nos ensinou. Pois se como disse fará o que pedimos ao Pai em seu nome, quão mais eficaz não será a nossa oração em nome de Cristo, se rezarmos com as suas próprias palavras?» (S. Cipriano)
 
«O convite do Senhor para O conhecermos é dirigido a cada um de vós, em qualquer lugar ou circunstância em que nos encontremos. Basta tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de o tentar encontrar, todos os dias, sem descanso» (Francisco)
 
«Toda a vida de Cristo é revelação do Pai: as suas palavras e atos, os seus silêncios e sofrimentos, a maneira de ser e de falar. Jesus pode dizer: Quem Me vê, vê o Pai´ (Jo 14, 9); e o Pai: Este é o meu Filho predileto: escutai-O´ (Lc 9, 35)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 516)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* João 14,7: Conhecer Jesus é conhecer o Pai.
  O texto do evangelho de hoje é a continuação do de ontem. Tomé tinha perguntado: "Senhor, não sabemos para onde vai. Como podemos conhecer o caminho?" Jesus respondeu: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida! Ninguém vai ao Pai senão por mim”. E acrescentou: “Se vocês me conhecem, conhecerão também o meu Pai. Desde agora vocês o conhecem e já o viram". Esta é a primeira frase do evangelho de hoje. Jesus sempre fala do Pai, pois era a vida dele que transparecia em tudo que falava e fazia. Esta referência constante ao Pai provoca a pergunta de Filipe.
 
* João 14,8-11: Filipe pergunta: "Mostra-nos o Pai, e basta!"  Era o desejo dos discípulos e das discípulas, o desejo de muita gente nas comunidades do Discípulo Amado e é o desejo de muita de nós hoje: como é que a gente faz para ver o Pai de que Jesus fala tanto? A resposta de Jesus é muito bonita e vale até hoje: "Filipe, tanto tempo estou no meio de vocês, e você ainda não me conhece! Quem me vê, vê o Pai!" A gente não deve pensar que Deus está longe de nós, como alguém distante e desconhecido. Quem quiser saber como é e quem é Deus Pai, basta olhar para Jesus. Ele o revelou nas palavras e gestos da sua vida! "O Pai está em mim e eu estou no Pai!" Através da sua obediência, Jesus está totalmente identificado com o Pai. Ele a cada momento fazia o que o Pai mostrava que era para fazer (Jo 5,30; 8,28-29.38). Por isso, em Jesus tudo é revelação do Pai! E os sinais ou as obras de Jesus são as obras do Pai! Como diz o povo: "O filho é a cara do pai!" Por isso, em Jesus e por Jesus, Deus está no meio de nós.
 
* João 14,12-14: Promessa de Jesus.  Jesus faz uma promessa para dizer que a intimidade dele com o Pai não é privilégio só dele, mas é possível para todos que creem nele. Nós também, através de Jesus, podemos chegar a fazer coisas bonitas para os outros do jeito que Jesus fazia para o povo do seu tempo. Ele vai interceder por nós. Tudo que a gente pedir a ele, ele vai pedir ao Pai e vai conseguir, contanto que seja para servir. Jesus é o nosso defensor. Ele vai embora, mas não nos deixa sem defesa. Ele promete que vai pedir ao Pai para Ele mandar um outro defensor ou consolador, o Espírito Santo. Jesus chegou a dizer que ele precisa ir embora, pois, do contrário, o Espírito Santo não poderá vir (Jo 16,7). É o Espírito Santo que realizará as coisas de Jesus em nós, desde que peçamos em nome de Jesus e observemos o grande mandamento da prática do amor.
 
Para um confronto pessoal
1) Conhecer Jesus é conhecer o Pai. Na Bíblia a palavra “conhecer uma pessoa” não é apenas uma compreensão intelectual, mas implica também uma profunda experiência da presença dessa pessoa na vida. Será que eu conheço Jesus?
2) Conheço o Pai?

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Sexta-feira da 4ª semana da Páscoa

Nossa Senhora do Bom Conselho
São Rafael Arnaiz Barón, religioso da Ordem Cisterciense
São Pedro de Rates, bispo e mártir
 
1ª Leitura (At 13,26-33):
Naqueles dias, disse Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia: «Irmãos, descendentes de Abraão e todos vós que temeis a Deus, a nós foi dirigida esta palavra da salvação. Na verdade, os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não quiseram reconhecer Jesus, mas, condenando-O, cumpriram as palavras dos Profetas que se leem cada sábado. Embora não tivessem encontrado nada que merecesse a morte, pediram a Pilatos que O mandasse matar. Cumprindo tudo o que estava escrito acerca d’Ele, desceram-no da cruz e depuseram-no no sepulcro. Mas Deus ressuscitou-O dos mortos e Ele apareceu durante muitos dias àqueles que tinham subido com Ele da Galileia a Jerusalém e são agora suas testemunhas diante do povo. Nós vos anunciamos a boa nova de que a promessa feita a nossos pais, Deus a cumpriu para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no salmo segundo: ‘Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei’».
 
Salmo Responsorial: 2
R. Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei.
 
«Fui Eu quem ungiu o meu Rei sobre Sião, minha montanha sagrada». Vou proclamar o decreto do Senhor. Ele disse-me: «Tu és meu filho, Eu hoje te gerei.
 
Pede-me e te darei as nações por herança e os confins da terra para teu domínio. Hás de governá-los com ceptro de ferro, quebrá-los como vasos de barro».
 
E agora, ó reis, tomai sentido, atendei, vós que governais a terra. Servi o Senhor com temor, aclamai-O com reverência.
 
Aleluia. Eu sou o caminho, a verdade e a vida, diz o Senhor; ninguém vai ao Pai senão por Mim. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 14,1-6): Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: «Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fosse assim, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós. E depois que eu tiver ido e preparado um lugar para vós, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também. E para onde eu vou, conheceis o caminho». Tomé disse: «Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?». Jesus respondeu: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim».
 
«Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim»
 
Rev. D. Josep Mª MANRESA Lamarca (Valldoreix, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, nesta sexta-feira da IV semana da Páscoa, Jesus nos convida à calma. A serenidade e a alegria fluem como um rio de paz, desde o seu Coração ressuscitado até o nosso, agitado e inquieto, muitas vezes sacudido por um ativismo tão febril como estéril.
 
São os nossos tempos de agitação, nervosismo e estresse. Tempos nos quais o pai da mentira infectou as inteligências dos homens, fazendo-os chamar bem ao mal e mal ao bem, tomando luz por obscuridade e obscuridade por luz, semeando em suas almas a dúvida e o ceticismo que nelas queimam todo broto de esperança em um horizonte de plenitude que o mundo, com suas adulações, não sabe nem pode dar.
 
Os frutos de tão diabólica empresa ou atividade são evidentes: a falta de sentido e a perda de transcendência que se apoderaram de tantos homens e mulheres que não apenas se esqueceram, mas também se extraviaram do Caminho, porque o desprezaram antes. Guerras, violências de todo gênero, intransigência e egoísmo diante da vida (anticoncepção, aborto, eutanásia…), famílias destruídas, juventude “desnorteada”, e um grande etecétera, constituem a grande mentira sobre a qual se sustenta boa parte do triste andaime da sociedade de tão alardeado “progresso”.
 
No meio de tudo, Jesus, o Príncipe da Paz, repete aos homens de boa vontade, com sua mansidão infinita: «Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede também em mim» (Jo 14, 1). À direita do Pai, ele acalenta, como um benévolo sonho de sua misericórdia, o momento de ter-nos junto a ele, «a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também» (Jo 14, 3). Não podemos nos escusar como Tomé. Nós sabemos o caminho. Nós, por pura graça, conhecemos, sim, a senda que conduz ao Pai, em cuja casa há muitas moradas. No céu nos espera um lugar que ficará para sempre vazio se não o ocuparmos. Aproximemo-nos, pois, sem temor, com ilimitada confiança de Aquele que é o único Caminho, a irrenunciável Verdade e a Vida em plenitude.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Se o amas, segui-o. Queres saber para onde tens de ir? 'Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida'. Permanecendo com o Pai, Ele é a verdade e a vida; vestindo-se de carne, faz-se o caminho» (Santo Agostinho)
 
«O lugar que Jesus vai preparar é na 'casa do Pai'. O discípulo poderá estar lá eternamente com o Mestre e participar de sua mesma alegria. No entanto, para atingir esse objetivo só há um caminho: Cristo» (São João Paulo II)
 
«A fé n'Ele introduz os discípulos no conhecimento do Pai, porque Jesus é ‘o caminho, a verdade e a vida’ (Jo 14, 6). A fé dá os seus frutos no amor: guardar a sua Palavra, os seus mandamentos, permanecer com Ele no Pai (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.614)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* Estes cinco capítulos (Jo 13 a 17) são um exemplo bonito de como as comunidades do Discípulo Amado do fim do primeiro século lá na Ásia Menor, atual Turquia, faziam catequese.
Por exemplo, neste capítulo 14, as perguntas dos três discípulos, Tomé (Jo 14,5), Filipe (Jo 14,8) e Judas Tadeu (Jo 14,22), eram também as perguntas e os problemas das Comunidades. Assim, as respostas de Jesus para os três eram um espelho em que as comunidades encontravam uma resposta para as suas próprias dúvidas e dificuldades.  Para sentir melhor o ambiente em que se fazia a catequese, você pode fazer o seguinte. Durante ou depois da leitura do texto, feche os olhos e faça de conta que você está lá na sala no meio dos discípulos e discípulas, participando do encontro com Jesus. Enquanto vai escutando, procure prestar atenção na maneira como Jesus prepara seus amigos para a separação e lhes revela sua amizade, transmitindo segurança e apoio.
 
* João 14,1-2: Nada te perturbe.   O texto começa com uma exortação: "Não se perturbe o coração de vocês!" Em seguida, diz: "Na casa do meu Pai há muitas moradas!" A insistência em conservar palavras de ânimo que ajudam a superar a perturbação e as divergências, é um sinal de que havia muita polêmica e divergências entre as comunidades. Uma dizia para a outra: "Nossa maneira de viver a fé é melhor do que a de vocês. Nós estamos salvos! Vocês estão erradas! Se quiserem ir para o céu, têm que se converter e viver como nós vivemos!" Jesus diz: "Na casa do meu Pai há muitas moradas!" Não é necessário que todos pensem do mesmo jeito. O importante é que todos aceitem Jesus como revelação do Pai e que, por amor a ele, tenham atitudes de compreensão, de serviço e de amor. Amor e serviço são o cimento que liga entre si os tijolos e faz as várias comunidades serem uma igreja de irmãos e de irmãs.
 
*  João 14,3-4: Jesus se despede.  Jesus diz que vai preparar um lugar e depois retornará para levar-nos com ele para a casa do Pai. Ele quer que estejamos todos com ele para sempre. O retorno de que Jesus fala é a vinda do Espírito que ele manda e que trabalha em nós, para que possamos viver como ele viveu (Jo 14,16-17.26; 16,13-14). Jesus termina dizendo: "Para onde eu vou, vocês conhecem o caminho!" Quem conhece Jesus conhece o caminho, pois o caminho é a vida que ele viveu e que o levou através da morte para junto do Pai.
 
*  João 14,5-6: Tomé pergunta pelo caminho. Tomé diz: "Senhor, não sabemos para onde vai. Como podemos conhecer o caminho?" Jesus responde: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida! Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Três palavras importantes. Sem caminho, não se anda. Sem verdade, não se acerta. Sem vida, só há morte! Jesus explica o sentido. Ele é o caminho, porque "ninguém vem ao Pai senão por mim!" Pois, ele é a porteira, por onde as ovelhas entram e saem (Jo 10,9). Jesus é a verdade, porque olhando para ele, estamos vendo a imagem do Pai. "Se vocês me conhecem, conhecerão também o Pai!" Jesus é a vida, porque caminhando como Jesus caminhou, estaremos unidos ao Pai e teremos a vida em nós!
 
Para um confronto pessoal
1) Que encontros bons do passado você guarda na memória e que são força na sua caminhada?
2) Jesus disse: "Na casa de meu Pai há muitas moradas". O que significa esta afirmação para nós hoje?