Em Nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo
“Subindo para Jerusalém, durante
o caminho, Jesus tomou à parte os Doze e disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalém, e o
Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles
o condenarão à morte. E o entregarão aos pagãos para
ser exposto às suas zombarias, açoitado e crucificado; mas ao terceiro dia
ressuscitará. Nisso aproximou-se a mãe dos
filhos de Zebedeu com seus filhos e prostrou-se diante de Jesus para lhe fazer
uma súplica.” Mateus 20, 17-20
OREMOS:
Senhor Jesus, quero nesta
Via-Sacra percorrer o caminho que Te levou para a cruz para que eu fosse salvo.
Concede-me a graça de estar unido a Ti, e renovar em minha vida os maravilhosos
efeitos da Tua paixão, morte e ressurreição. Levanta-me dos meus pecados,
purifica-me das fraquezas e vícios, liberta-me de toda opressão maligna,
cura-me das enfermidades e enche-me com uma nova alegria diante da vida. Amém.
OFERECIMENTO:
“Senhor Jesus, ofereço esta
prática de piedade pelas minhas necessidades pessoais, familiares, e de todos
os que recomendaram as minhas orações.
Também ofereço pelos enfermos e as almas do purgatório, pela perseverança dos justos e conversão dos pecadores, pela
Santa Igreja e pelas vocações sacerdotais e religiosas, pelas famílias e pela
paz do Mundo. Amém.
Primeira Estação: Jesus é condenado à morte
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
evangelho segundo São Mateus 27, 22-23.26: Retorquiu-lhes Pilatos: “E que hei de
fazer de Jesus que é chamado Messias” Replicaram todos: “Seja crucificado!”
Pilatos insistiu: “Então, que mal fez Ele” Mas eles gritavam mais ainda: “Seja
crucificado!” (…) Soltou-lhes então Barrabás. E a Jesus, depois de o ter
mandado açoitar, entregou-o para ser crucificado.
MEDITAÇÃO
O Juiz do mundo, que um dia
voltará para nos julgar a todos, está ali, aniquilado, insultado e inerte
diante do juiz terreno. Pilatos não é um monstro de maldade. Sabe que este
condenado é inocente; procura um modo de O libertar. Mas o seu coração está dividido.
E, no fim, faz prevalecer a sua posição, a si mesmo, sobre o direito. Também os
homens que gritam e pedem a morte de Jesus não são monstros de maldade. Muitos
deles, no dia de Pentecostes, sentir-se-ão «emocionados até ao fundo do
coração» (Act 2, 37), quando Pedro lhes disser: A «Jesus de Nazaré, Homem
acreditado por Deus junto de vós, (…), matastes, cravando-O na cruz pela mão de
gente perversa» (Act 2, 22.23). Mas naquele momento sofrem a influência da
multidão. Gritam porque os outros gritam e como gritam os outros. E, assim, a
justiça é espezinhada pela covardia, pela pusilanimidade, pelo medo da
mentalidade predominante. A voz sútil da consciência fica sufocada pelos gritos
da multidão. A indecisão, o respeito humano dão força ao mal.
ORAÇÃO
Senhor, fostes condenado à morte
porque o medo do olhar alheio sufocou a voz da consciência. E, assim, acontece
que, sempre ao longo de toda a história, inocentes sejam maltratados,
condenados e mortos. Quantas vezes também nós preferimos o sucesso à verdade, a
nossa reputação à justiça. Dai força, na nossa vida, à voz subtil da
consciência, à vossa voz. Olhai-me como olhastes para Pedro depois de Vos ter
negado. Fazei com que o vosso olhar penetre nas nossas almas e indique a
direção à nossa vida. Àqueles que na Sexta-feira Santa gritaram contra Vós, no
dia de Pentecostes destes a contrição do coração e a conversão. E assim destes
esperança a todos nós. Não cesseis de dar também a nós a graça da conversão.
Segunda Estação; Jesus é carregado com a cruz
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
evangelho segundo São Mateus 27, 27-31: Então, os soldados do governador
levaram Jesus consigo para o Pretório e reuniram junto d’Ele toda a companhia.
Depois de O terem despido, envolveram-n’O em um manto encarnado. Teceram uma
coroa de espinhos, que Lhe puseram na cabeça, e, na mão direita, colocaram-Lhe
uma cana. Ajoelharam-se diante d’Ele e escarneceram-n’O dizendo: “Salve, ó rei
dos Judeus!” Depois, cuspiram n’Ele e pegaram na cana e puseram-se a bater-Lhe
com ela na cabeça. No fim de O terem escarnecido, despiram-Lhe o manto,
vestiram-Lhe as suas roupas e levaram-n’O para O crucificarem.
MEDITAÇÃO
Jesus, condenado como pretenso
rei, é escarnecido, mas precisamente na troça aparece cruelmente a verdade.
Quantas vezes as insígnias do poder trazidas pelos poderosos deste mundo são um
insulto à verdade, à justiça e à dignidade do homem! Quantas vezes os seus
rituais e as suas grandes palavras, verdadeiramente, não passam de pomposas
mentiras, uma caricatura do dever que lhes incumbe por força do seu cargo, ou
seja, colocar-se ao serviço do bem. Por isso mesmo, Jesus, Aquele que é
escarnecido e que traz a coroa do sofrimento, é o verdadeiro rei. O seu cetro é
justiça (cf. Sal 45/44, 7). O preço da justiça é sofrimento neste mundo: Ele, o
verdadeiro rei, não reina por meio da violência, mas através do amor com que
sofre por nós e conosco. Ele carrega a cruz, a nossa cruz, o peso de sermos
homens, o peso do mundo. É assim que Ele nos precede e mostra como encontrar o
caminho para a vida verdadeira.
ORAÇÃO
Senhor deixastes que Vos
escarnecessem e ultrajassem. Ajudai-nos a não fazer coro com aqueles que
escarnecem quem sofre e quem é frágil. Ajudai-nos a reconhecer o vosso rosto em
quem é humilhado e marginalizado. Ajudai-nos a não desanimar perante as zombarias
do mundo quando a obediência à vossa vontade é metida a ridículo. Carregastes a
cruz e convidastes-nos a seguir-Vos por este caminho (Mt 10, 38). Ajudai-nos a
aceitar a cruz, a não fugir dela, a não lamentarmo-nos nem deixar que os nossos
corações se abatam com as provas da vida. Ajudai-nos a percorrer o caminho do
amor e, obedecendo às suas exigências, a alcançar a verdadeira alegria.
Terceira Estação: Jesus cai pela primeira vez
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
livro do profeta Isaías 53, 4-6: Eram os nossos males que Ele suportava, e as
nossas dores que tinha sobre Si. Mas nós víamos n’Ele um homem castigado,
ferido por Deus e sujeito à humilhação. Ele foi trespassado por causa das
nossas culpas, e esmagado devido às nossas faltas. O castigo que nos salva,
caiu sobre Ele, e por causa das suas chagas é que fomos curados. Todos nós,
como ovelhas, andávamos errantes, seguindo cada qual o seu caminho. E o Senhor
fez cair sobre Ele as faltas de todos nós.
MEDITAÇÃO
O homem caiu e continua a cair:
quantas vezes ele se torna a caricatura de si mesmo, já não é a imagem de Deus,
mas algo que mete a ridículo o Criador. Aquele que, ao descer de Jerusalém para
Jericó, embateu nos ladrões que o despojaram deixando-o meio morto, sangrando
na beira da estrada, não é porventura a imagem por excelência do homem? A queda
de Jesus sob a cruz não é apenas a queda do homem Jesus já extenuado pela
flagelação. Aqui aparece algo de mais profundo, como diz Paulo na carta aos
Filipenses: «Ele que era de condição divina não reivindicou o direito de ser
equiparado a Deus. Mas despojou-Se a Si mesmo tomando a condição de servo,
tornando-Se semelhante aos homens (.) humilhou-Se a Si mesmo, feito obediente
até à morte e morte de cruz» (Fil 2, 6-8). Na queda de Jesus sob o peso da
cruz, é visível todo este seu itinerário: a sua voluntária humilhação para nos
levantar do nosso orgulho. E ao mesmo tempo aparece a natureza do nosso
orgulho: a soberba pela qual desejamos emancipar-nos de Deus sendo apenas nós
mesmos, pela qual cremos que não temos necessidade do amor eterno, mas queremos
organizar a nossa vida sozinhos. Nesta revolta contra a verdade, nesta
tentativa de nos tornarmos deus, de sermos criadores e juízes de nós mesmos,
caímos e acabamos por autodestruir-nos. A humilhação de Jesus é a superação da
nossa soberba: com a sua humilhação, Ele faz-nos levantar. Deixemos que nos
levante. Despojemos-nos da nossa auto-suficiência, da nossa errada cisma de
autonomia e aprendamos o contrário d’Ele, d’Aquele que Se humilhou, ou seja,
aprendamos a encontrar a nossa verdadeira grandeza, humilhando-nos e
voltando-nos para Deus e para os irmãos espezinhados.
ORAÇÃO
Senhor Jesus, o peso da cruz
fez-Vos cair por terra. O peso do nosso pecado, o peso da nossa soberba
deita-Vos ao chão. Mas, a vossa queda não é sinal de um destino adverso, nem é
a pura e simples fraqueza de quem é espezinhado. Quisestes vir até junto de nós
que, pela nossa soberba, jazemos por terra. A soberba de pensar que somos
capazes de produzir o homem fez com que os homens se tenham tornado um espécie
de mercadoria para comprar e vender, como que uma reserva de material para as
nossas experiências, pelas quais esperamos de, por nós mesmos, superar a morte,
quando, na verdade, conseguimos apenas humilhar cada vez mais profundamente a
dignidade do homem. Senhor, vinde em nossa ajuda, porque caímos. Ajudai-nos a
abandonar a nossa soberba devastadora e, aprendendo da vossa humildade, a
pormo-nos novamente de pé.
Quarta Estação: Jesus encontra sua Mãe
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
evangelho segundo São Lucas 2, 34-35.51: Simeão abençoou-os e disse a Maria,
sua Mãe: “Ele foi estabelecido para a queda e o ressurgir de muitos em Israel,
e para ser sinal de contradição; e uma espada Te há de traspassar a alma. Assim
se deverão revelar os intentos de muitos corações” (…) Sua mãe guardava no
coração todas estas recordações.
MEDITAÇÃO
Na Via-Sacra de Jesus, aparece
também Maria, sua Mãe. Durante a sua vida pública, teve de ficar de lado para
dar lugar ao nascimento da nova família de Jesus, a família dos seus
discípulos. Teve também de ouvir estas palavras: «Quem é a minha Mãe e quem são
os meus irmãos? (.) Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos
céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe» (Mt 12, 48.50). Pode-se agora
constatar que Ela é a Mãe de Jesus não só no corpo, mas também no coração.
Ainda antes de O ter concebido no
corpo, pela sua obediência concebera-O no coração. Fora-Lhe dito: «Hás de
conceber no teu seio e dar à luz um filho (.) Será grande (.) O Senhor Deus
dar-Lhe-á o trono de seu pai David» (Lc 1, 31-32). Mas algum tempo depois
ouvira da boca do velho Simeão uma palavra diferente: «Uma espada Te há-de
trespassar a alma» (Lc 2, 35).
Deste modo ter-Se-á lembrado de
certas palavras pronunciadas pelos profetas, tais como: «Foi maltratado e
resignou-se, não abriu a boca, como cordeiro levado ao matadouro» (Is 53, 7).
Agora tudo isto se torna realidade. No coração, tinha sempre conservado as
palavras que o anjo Lhe dissera quando tudo começou: «Não tenhas receio, Maria»
(Lc 1, 30).
Os discípulos fugiram; Ela não
foge. Ela está ali, com a coragem de mãe, com a fidelidade de mãe, com a
bondade de mãe, e com a sua fé, que resiste na escuridão: «Feliz daquela que
acreditou» (Lc 1, 45). «Mas, quando o Filho do Homem voltar, encontrará fé
sobre a terra?» (Lc 18, 8). Sim, agora Ele sabe-o: encontrará fé. E esta é,
naquela hora, a sua grande consolação.
ORAÇÃO
Santa Maria, Mãe do Senhor,
permanecestes fiel quando os discípulos fugiram. Tal como acreditastes quando o
anjo Vos anunciou o que era incrível – que haverias de ser Mãe do Altíssimo –
assim também acreditastes na hora da sua maior humilhação.
E foi assim que, na hora da cruz,
na hora da noite mais escura do mundo, Vos tornastes Mãe dos crentes, Mãe da
Igreja. Nós Vos pedimos: ensinai-nos a acreditar e ajudai-nos para que a fé se
torne coragem de servir e gesto de um amor que socorre e sabe partilhar o
sofrimento.
Quinta Estação: Jesus é ajudado a levar a cruz pelo
Cireneu
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
evangelho segundo São Mateus 27, 32; 16, 24: Ao saírem, encontraram um homem de
Cirene, chamado Simão, e requisitaram-no, para levar a cruz de Jesus. Jesus
disse aos seus discípulos: “Se alguém quiser seguir-Me, renegue-se a si mesmo,
pegue na sua cruz e siga-Me”.
MEDITAÇÃO
Simão de Cirene regressa do
trabalho, vai a caminho de casa quando se cruza com aquele triste cortejo de
condenados – para ele talvez fosse um espetáculo habitual. Os soldados valem-se
do seu direito de coação e colocam a cruz às costas dele, robusto homem do
campo. Que aborrecimento não deverá ter sentido ao ver-se inesperadamente
envolvido no destino daqueles condenados! Faz o que deve fazer, mas certamente
com grande relutância.
E todavia o evangelista Marcos
nomeia, juntamente com ele, também os seus filhos, que evidentemente eram
conhecidos como cristãos, como membros daquela comunidade (Mc 15, 21). Do
encontro involuntário, brotou a fé. Acompanhando Jesus e compartilhando o peso
da cruz, o Cireneu compreendeu que era uma graça poder caminhar juntamente com
este Crucificado e assisti-Lo.
O mistério de Jesus que sofre
calado tocou-lhe o coração. Jesus, cujo amor divino era o único que podia, e
pode, redimir a humanidade inteira, quer que compartilhemos a sua cruz para
completar o que ainda falta aos seus sofrimentos (Col 1, 24).
Sempre que, bondosamente, vamos
ao encontro de alguém que sofre, alguém que é perseguido e inerme, partilhando
o seu sofrimento ajudamos a levar a própria cruz de Jesus. E assim obtemos
salvação, e nós mesmos podemos contribuir para a salvação do mundo.
ORAÇÃO
Senhor, abristes a Simão de
Cirene os olhos e o coração, dando-lhe, na partilha da cruz, a graça da fé.
Ajudai-nos a assistir o nosso próximo que sofre, ainda que este chamamento
resultasse em contradição com os nossos projetos e as nossas simpatias. Concedei-nos
reconhecer que é uma graça poder partilhar a cruz dos outros e experimentar que
dessa forma estamos a caminhar convosco. Fazei-nos reconhecer com alegria que é
precisamente pela partilha do vosso sofrimento e dos sofrimentos deste mundo
que nos tornamos ministros da salvação, podendo assim ajudar a construir o
vosso corpo, a Igreja.
Sexta Estação: A Verônica limpa o rosto de Jesus
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
livro do profeta Isaías 53, 2-3: O meu Servo cresceu (.) sem distinção nem
beleza que atraia o nosso olhar, nem aspecto agradável que possa cativar-nos.
Desprezado e repelido pelos homens, homem de dores, afeito ao sofrimento, é
como aquele a quem se volta a cara, pessoa desprezível, da qual se não faz
caso.
Do
livro dos Salmos 27/26, 8-9:
Segredou-me o coração: “Procura a sua face!” É,
Senhor, o vosso rosto que eu persigo. Não escondais de mim o vosso rosto, nem
rejeiteis com ira o vosso servo. Vós sois a minha ajuda, o Deus da minha
salvação.
MEDITAÇÃO
«É, Senhor, o vosso rosto que eu
persigo. Não escondais de mim o vosso rosto» (Sal 27/26, 8). Verônica –
Berenice, segundo a tradição grega – encarna este anseio que irmana todos os
homens piedosos do Antigo Testamento, o anseio que provam todos os homens
crentes de verem o rosto de Deus.
Em todo o caso, na Via-Sacra de
Jesus, inicialmente ela limitara-se a prestar um serviço de gentileza feminina:
oferecer um lenço a Jesus. Não se deixa contagiar pela brutalidade dos
soldados, nem imobilizar pelo medo dos discípulos.
É a imagem da mulher bondosa que,
perante o turbamento e escuridão dos corações, mantém a coragem da bondade, não
permite ao seu coração de entenebrecer-se: «Bem-aventurados os puros de
coração, porque verão a Deus» – dissera o Senhor no Discurso da Montanha (Mt 5,
8). Ao princípio, Verônica via apenas um rosto maltratado e marcado pela dor.
Mas, o ato de amor imprime no seu
coração a verdadeira imagem de Jesus: no Rosto humano, coberto de sangue e de
feridas, ela vê o Rosto de Deus e da sua bondade que nos acompanha mesmo na dor
mais profunda. Somente com o coração podemos ver Jesus. Apenas o amor nos torna
capazes de ver e nos torna puros. Só o amor nos faz reconhecer Deus, que é o
próprio amor.
ORAÇÃO
Senhor, dai-nos a inquietação do
coração que procura o vosso rosto. Protegei-nos do obscurecimento do coração
que vê apenas a superfície das coisas. Concedei-nos aquela generosidade e
pureza de coração que nos tornam capazes de ver a vossa presença no mundo.
Quando não formos capazes de
realizar grandes coisas, dai-nos a coragem de uma bondade humilde. Imprimi o
vosso rosto nos nossos corações, para Vos podermos encontrar e mostrar ao mundo
a vossa imagem.
Sétima Estação: Jesus cai pela segunda vez
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
livro das Lamentações 3, 1-2.9.16: Eu sou o homem que conheceu a miséria sob a
vara do seu furor. Ele me guiou e me fez andar nas trevas e não na luz. (.)
Embarrou meus caminhos com blocos de pedra, obstruiu minhas veredas. (.) Ele
quebrou meus dentes com cascalho, mergulhou-me na cinza.
MEDITAÇÃO
A tradição da tríplice queda de
Jesus sob o peso da cruz recorda a queda de Adão – o ser humano caído que somos
nós – e o mistério da associação de Jesus à nossa queda. Na história, a queda
do homem assume sempre novas formas.
Na sua primeira carta, S. João
fala duma tríplice queda do homem: a concupiscência da carne, a concupiscência
dos olhos e a soberba da vida. Assim interpreta ele a queda do homem e da
humanidade, no horizonte dos vícios do seu tempo com todos os seus excessos e
depravações.
Mas, olhando a história mais
recente, podemos também pensar como a cristandade, cansada da fé, abandonou o
Senhor: as grandes ideologias, com a banalização do homem que já não crê em
nada e se deixa simplesmente ir à deriva, construíram um novo paganismo, um
paganismo pior que o antigo, o qual, desejoso de marginalizar definitivamente
Deus, acabou por perder o homem.
Eis o homem que jaz no pó. O
Senhor carrega este peso e cai… cai, para poder chegar até nós; Ele olha-nos
para que em nós volte a palpitar o coração; cai para nos levantar.
ORAÇÃO
Senhor Jesus Cristo, carregastes
o nosso peso e continuais a carregar-nos. É o nosso peso que Vos faz cair. Mas
sois Vós a levantar-nos, porque, sozinhos, não conseguimos levantar-nos do pó.
Livrai-nos do poder da concupiscência.
Em vez do coração de pedra,
dai-nos novamente um coração de carne, um coração capaz de ver. Destruí o poder
das ideologias, para os homens poderem reconhecer que estão permeadas de
mentiras.
Não permitais que o muro do
materialismo se torne intransponível. Fazei que Vos ouçamos de novo. Tornai-nos
sóbrios e vigilantes para podermos resistir às forças do mal, e ajudai-nos a
reconhecer as necessidades interiores e exteriores dos outros, e a socorrê-las.
Erguei-nos, para podermos
levantar os outros. Concedei-nos esperança no meio de toda esta escuridão, para
podermos ser portadores de esperança no mundo.
Oitava Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
que choram por Ele
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
evangelho segundo São Lucas 23, 28-31: Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes:
“Mulheres de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por vós mesmas e
pelos vossos filhos. Pois dias virão em que se dirá: “Felizes as estéreis, as
entranhas que não tiveram filhos e os peitos que não amamentaram”. Nessa
altura, começarão a dizer aos montes: “Caí sobre nós”, e às colinas:
“Encobri-nos”. Porque se fazem assim no madeiro verde, que será no madeiro
seco?”
MEDITAÇÃO
As palavras com que Jesus adverte
as mulheres de Jerusalém que O seguem e choram por Ele, fazem-nos refletir.
Como entendê-las? Não se trata porventura de uma advertência contra uma piedade
puramente sentimental, que não se torna conversão e fé vivida? De nada serve
lamentar, por palavras e sentimentalmente, os sofrimentos deste mundo, se a
nossa vida continua sempre igual.
Por isso, o Senhor nos adverte do
perigo em que nós próprios nos encontramos. Mostra-nos a seriedade do pecado e
a seriedade do juízo. Apesar de todas as nossas palavras de horror à vista do
mal e dos sofrimentos dos inocentes, não somos nós porventura demasiado
inclinados a banalizar o mistério do mal? Da imagem de Deus e de Jesus, no fim
de contas, admitimos apenas o aspecto terno e amável, enquanto tranquilamente
cancelámos o aspecto do juízo?
Como poderia Deus fazer-Se um
drama com a nossa fragilidade – pensamos cá conosco -, não passamos de simples
homens?! Mas, fixando os sofrimentos do Filho, vemos toda a seriedade do
pecado, vemos como tem de ser expiado até ao fim para poder ser superado. Não
se pode continuar a banalizar o mal, quando vemos a imagem do Senhor que sofre.
Também a nós, diz Ele: Não choreis por Mim, chorai por vós próprios… porque se
tratam assim o madeiro verde, que será do madeiro seco?
ORAÇÃO
Senhor, às mulheres que choravam,
falastes de penitência, do dia do Juízo, quando nos encontrarmos diante da
vossa face, a face do Juiz do mundo. Chamais-nos a sair da banalização do mal
que nos deixa tranquilos para podermos continuar a nossa vida de sempre.
Mostrai-nos a seriedade da nossa responsabilidade, o perigo de sermos
encontrados, no Juízo, culpados e estéreis.
Fazei com que não nos limitemos a
caminhar ao vosso lado, oferecendo apenas palavras de compaixão. Convertei-nos
e dai-nos uma vida nova; não permitais que acabemos por ficar como um madeiro
seco, mas fazei que nos tornemos ramos vivos em Vós, a videira verdadeira, e
produzamos fruto para a vida eterna (cf. Jo 15, 1-10).
Nona Estação: Jesus cai pela terceira vez
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
livro das Lamentações 3, 27-32: É bom para o homem suportar o jugo desde a sua
juventude. Que esteja solitário e silencioso, quando o Senhor o impuser sobre
ele; que ponha sua boca no pó: talvez haja esperança! Que dê sua face a quem o
fere e se sacie de opróbrios. Pois o Senhor não rejeita para sempre: se Ele
aflige, Ele se compadece segundo a sua grande bondade.
MEDITAÇÃO
E que dizer da terceira queda de
Jesus sob o peso da cruz? Pode talvez fazer-nos pensar na queda do homem em
geral, no afastamento de muitos de Cristo, caminhando à deriva para um
secularismo sem Deus. Mas não deveríamos pensar também em tudo quanto Cristo
tem sofrido na sua própria Igreja?
Quantas vezes se abusa do
Santíssimo Sacramento da sua presença, frequentemente como está vazio e ruim o
coração onde Ele entra! Tantas vezes celebramos apenas nós próprios, sem nos
darmos conta sequer d’Ele! Quantas vezes se contorce e abusa da sua Palavra!
Quão pouca fé existe em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujeira
há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam
pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autossuficiência!
Respeitamos tão pouco o
sacramento da reconciliação, onde Ele está à nossa espera para nos levantar das
nossas quedas! Tudo isto está presente na sua paixão. A traição dos discípulos,
a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento
do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que
dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, Eleison – Senhor,
salvai-nos (cf. Mt 8, 25).
ORAÇÃO
Senhor, muitas vezes a vossa
Igreja parece-nos uma barca que está para afundar, uma barca que mete água por
todos os lados. E mesmo no vosso campo de trigo, vemos mais cizânia que trigo.
O vestido e o rosto tão sujos da vossa Igreja horrorizam-nos.
Mas somos nós mesmos que os
sujamos! Somos nós mesmos que Vos traímos sempre, depois de todas as nossas
grandes palavras, os nossos grandes gestos. Tende piedade da vossa Igreja:
também dentro dela, Adão continua a cair.
Com a nossa queda, deitamo-Vos ao
chão, e Satanás a rir-se porque espera que não mais conseguireis levantar-Vos
daquela queda; espera que Vós, tendo sido arrastado na queda da vossa Igreja,
ficareis por terra derrotado. Mas, Vós erguer-Vos-eis. Vós levantastes-Vos,
ressuscitastes e podeis levantar-nos também a nós. Salvai e santificai a vossa
Igreja. Salvai e santificai a todos nós.
Décima Estação: Jesus é despojado das suas vestes
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
evangelho segundo São Mateus 27, 33-36: Chegados a um lugar chamado Gólgota,
quer dizer «Lugar do Crânio», deram-Lhe a beber vinho misturado com fel. Mas
Jesus, quando o provou, não quis beber. Depois de O terem crucificado,
repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, e ficaram ali sentados
a guardá-Lo.
MEDITAÇÃO
Jesus é despojado das suas
vestes. A roupa confere ao homem a sua posição social; dá-lhe o seu lugar na
sociedade, fá-lo sentir alguém. Ser despojado em público significa que Jesus já
não é ninguém, nada mais é que um marginalizado, desprezado por todos.
O momento do despojamento
recorda-nos também a expulsão do paraíso: ficou sem o esplendor de Deus o
homem, que agora está, ali, nu e exposto, desnudado e envergonha-se. Deste
modo, Jesus assume mais uma vez a situação do homem caído.
Jesus despojado recorda-nos o
facto de que todos nós perdemos a «primeira veste», isto é, o esplendor de
Deus. Junto da cruz, os soldados lançam sortes para repartirem entre si os seus
míseros haveres, as suas vestes. Os evangelistas narram isto com palavras
tiradas do Salmo 22, 19 e assim afirmam-nos o mesmo que Jesus há de dizer aos
discípulos de Emaús: tudo aconteceu «conforme as Escrituras».
Não se trata aqui de pura
coincidência, tudo o que acontece está contido na Palavra de Deus e assente no
seu desígnio divino. O Senhor experimenta todos os estádios e degraus da
perdição dos homens, e cada um destes degraus é, com toda a sua amargura, um
passo da redenção: é precisamente assim que Ele traz de volta para casa a
ovelha perdida.
Recordemos ainda que, segundo diz
S. João, o objeto do sorteio era a túnica de Jesus, a qual, «toda tecida de
alto a baixo, não tinha costura» (Jo 19, 23). Podemos considerar isto como uma
alusão à veste do sumo sacerdote, que era «tecida como um todo», sem costura
(Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, III, 161). Ele, o Crucificado, é
realmente o verdadeiro sumo sacerdote.
ORAÇÃO
Senhor Jesus, fostes despojado
das vossas vestes, exposto à desonra, expulso da sociedade. Assumistes sobre
Vós a desonra de Adão, sanando-a. Assumistes os sofrimentos e as necessidades
dos pobres, daqueles que são expulsos do mundo. Deste modo é que realizais a
palavra dos profetas.
É precisamente assim que dais
significado àquilo que não tem significado. Assim mesmo nos dais a conhecer que
nas mãos do vosso Pai estais Vós, nós e o mundo. Concedei-nos um respeito
profundo pelo homem em todas as fases da sua existência e em todas as situações
onde o encontrarmos. Dai-nos a veste luminosa da vossa graça.
Décima Primeira Estação: Jesus é pregado na Cruz
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
evangelho segundo São Mateus 27, 37-42
Puseram
por cima da cabeça d’Ele um letreiro escrito com a causa da condenação: “Este é
Jesus, o Rei dos Judeus”. Foram então crucificados com Ele dois salteadores, um
à direita e outro à esquerda. Os que passavam dirigiam-Lhe insultos, abanavam a
cabeça e diziam: “Tu que demolias o Templo e o reedificavas em três dias,
salva-Te a Ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz!” De igual modo,
também os sumos sacerdotes troçavam, juntamente com os escribas e os anciãos, e
diziam: “Salvou os outros e a Si mesmo não pode salvar-Se! É Rei de Israel!
Desça agora da cruz, e acreditaremos n’Ele”.
MEDITAÇÃO
Jesus é pregado na cruz. O
sudário de Turim permite formar uma ideia da crueldade incrível deste processo.
Jesus não toma a bebida anestesiante que Lhe fora oferecida: conscientemente
assume todo o sofrimento da crucifixão.
Todo o seu corpo é martirizado;
cumpriram-se as palavras do Salmo: «Eu, porém, sou um verme e não um homem, o
opróbrio dos homens e a abjecção da plebe» (Sal 22/21, 7). «Como um homem (.)
diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desestimado.
Na verdade, Ele tomou sobre Si as
nossas doenças, carregou as nossas dores» (Is 53, 3-4). Detenhamo-nos diante
desta imagem de sofrimento, diante do Filho de Deus sofredor. Olhemos para Ele
nos momentos de presunção e de prazer, para aprendermos a respeitar os limites
e a ver a superficialidade de todos os bens puramente materiais.
Olhemos para Ele nos momentos de
calamidade e de angústia, para reconhecermos que precisamente assim estamos
perto de Deus. Procuremos reconhecer o seu rosto naqueles que tendemos a
desprezar. Diante do Senhor condenado, que não quer usar o seu poder para
descer da cruz, mas antes suportou o sofrimentos da cruz até ao fim, pode
assomar ainda outro pensamento.
Inácio de Antioquia, ele mesmo
preso com cadeias pela sua fé no Senhor, elogiou os cristãos de Esmirna pela
sua fé inabalável: afirma que estavam, por assim dizer, pregados com a carne e
o sangue à cruz do Senhor Jesus Cristo (1, 1). Deixemo-nos pregar a Ele, sem
ceder a qualquer tentação de nos separarmos nem ceder às zombarias que
pretendem levar-nos a fazê-lo.
ORAÇÃO
Senhor Jesus Cristo, fizestes-Vos
pregar na cruz, aceitando a crueldade terrível deste tormento, a destruição do
vosso corpo e da vossa dignidade. Fizestes-Vos pregar, sofrestes sem evasões
nem descontos.
Ajudai-nos a não fugir perante o
que somos chamados a realizar. Ajudai-nos a fazemo-nos ligar estreitamente a
Vós. Ajudai-nos a desmascarar a falsa liberdade que nos quer afastar de Vós.
Ajudai-nos a aceitar a vossa liberdade «ligada» e a encontrar nesta estreita
ligação convosco a verdadeira liberdade.
Décima Segunda Estação: Jesus morre na Cruz
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
evangelho segundo São Mateus 27, 45-50.54
A
partir do meio-dia, houve trevas em toda a região, até às três horas da tarde.
E, pelas três horas da tarde, Jesus bradou com voz forte: “Eli, Eli, lemá
sabachthani”, quer dizer, “Meu Deus, Meu Deus, porque Me abandonaste?” Alguns
dos presentes ouviram e disseram: «Está a chamar por Elias». E logo um deles
correu a pegar numa esponja, ensopou-a em vinagre, pô-la numa cana e deu-Lhe a
beber. Mas os outros disseram: «Deixa lá! Vejamos se Elias vem salvá-Lo». E
Jesus, dando novamente um forte brado, expirou. Entretanto, o centurião e os
que estavam com ele de guarda a Jesus, ao verem o tremor de terra e o que
estava a suceder, ficaram aterrados e disseram: «Ele era, na verdade, Filho de
Deus».
MEDITAÇÃO
No cimo da cruz de Jesus – nas
duas línguas do mundo de então, o grego e o latim, e na língua do povo eleito,
o hebraico – está escrito quem é: o Rei dos Judeus, o Filho prometido a David.
Pilatos, o juiz injusto, tornou-se profeta sem querer. Perante a opinião
pública mundial é proclamada a realeza de Jesus.
O próprio Jesus não tinha aceite
o título de Messias, enquanto poderia induzir a uma ideia errada, humana, de
poder e de salvação. Mas, agora, o título pode estar escrito ali publicamente
sobre o Crucificado. Ele, assim, é verdadeiramente o rei do mundo. Agora foi
verdadeiramente «elevado». Na sua descida, Ele subiu.
Agora cumpriu radicalmente o
mandamento do amor, cumpriu a oferta de Si próprio, e precisamente deste modo
Ele é agora a manifestação do verdadeiro Deus, daquele Deus que é amor. Agora
sabemos quem é Deus. Agora sabemos como é a verdadeira realeza. Jesus reza o
Salmo 22, que começa por estas palavras: «Meu Deus, meu Deus, porque Me
abandonaste?» (Sal 22/21, 2).
Assume em Si mesmo todo o Israel,
a humanidade inteira, que sofre o drama da escuridão de Deus, e faz com que
Deus Se manifeste precisamente onde parece estar definitivamente derrotado e
ausente. A cruz de Cristo é um acontecimento cósmico.
O mundo fica na escuridão, quando
o Filho de Deus sofre a morte. A terra treme. E junto da cruz tem início a
Igreja dos pagãos. O centurião romano reconhece, compreende que Jesus é o Filho
de Deus. Da cruz, Ele triunfa sem cessar.
ORAÇÃO
Senhor Jesus Cristo, na hora da
vossa morte, o sol escureceu. Sois pregado na cruz sem cessar. Precisamente
nesta hora da história, vivemos na escuridão de Deus. Pelo sofrimento sem
medida e pela maldade dos homens o rosto de Deus, o vosso rosto, aparece
obscurecido, irreconhecível.
Mas foi precisamente na cruz que
Vos fizestes reconhecer. Precisamente enquanto sois Aquele que sofre e que ama,
sois aquele que é elevado. Foi precisamente lá que triunfastes. Ajudai-nos a
reconhecer, nesta hora de escuridão e confusão, o vosso rosto. Ajudai-nos a
crer em Vós e a seguir-Vos precisamente na hora da escuridão e da privação.
Mostrai-Vos novamente ao mundo nesta hora. Fazei com que a vossa salvação se
manifeste.
Décima Terceira Estação: Jesus é descido da Cruz e
entregue a sua Mãe
Nós te adoramos, Senhor
Jesus Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
evangelho segundo São Mateus 27, 54-55
O
centurião e os que estavam com ele de guarda a Jesus, ao verem o tremor de
terra e o que estava a suceder, ficaram aterrados e disseram: «Ele era, na
verdade, Filho de Deus». Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres, que
tinham seguido Jesus desde a Galileia, para O servirem.
MEDITAÇÃO
Jesus morreu, o seu coração é
trespassado pela lança do soldado romano e dele brotam sangue e água:
misteriosa imagem do rio dos sacramentos, do Baptismo e da Eucaristia, dos
quais, em virtude do coração trespassado do Senhor, renasce incessantemente a Igreja.
E não Lhe são quebradas as
pernas, como aos outros dois crucificados; deste modo Ele aparece como o
verdadeiro cordeiro pascal, ao qual nenhum osso deve ser quebrado (cf. Ex 12,
46). E agora que tudo suportou, vemos que Ele, apesar de toda a confusão dos
corações, apesar do poder do ódio e da cobardia, não ficou sozinho.
Os fiéis existem. Junto da cruz,
estavam Maria, sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, Maria de Magdala e o
discípulo que Ele amava. Agora chega também um homem rico, José de Arimateia: o
rico encontra modo de passar pela buraco de uma agulha, porque Deus lhe dá a
graça. Sepulta Jesus no seu túmulo ainda intacto, num jardim: o cemitério onde
fica sepultado Jesus transforma-se em jardim, no jardim donde fora expulso Adão
quando se separara da plenitude da vida, do seu Criador.
O túmulo no jardim faz-nos saber
que o domínio da morte está para terminar. E chega também um membro do
Sinédrio, Nicodemos, a quem Jesus tinha anunciado o mistério do renascimento
pela água e pelo Espírito. Até no Sinédrio, que tinha decidido a sua morte, há
alguém que acredita, que conhece e reconhece Jesus após a sua morte.
Sobre a hora do grande luto, da
grande escuridão e do desespero, aparece misteriosamente a luz da esperança. O
Deus escondido permanece em todo o caso o Deus vivo e próximo. O Senhor morto
permanece em todo o caso o Senhor e nosso Salvador, mesmo na noite da morte. A
Igreja de Jesus Cristo, a sua nova família, começa a formar-se.
ORAÇÃO
Senhor, descestes à escuridão da
morte. Mas o vosso corpo é recolhido por mãos bondosas e envolvido num cândido
lençol (Mt 27, 59). A fé não está completamente morta, não se pôs totalmente o
sol. Quantas vezes parece que Vós estais a dormir. Como é fácil a nós, homens,
afastar-nos dizendo para nós mesmos: Deus morreu.
Fazei com que, na hora da
escuridão, reconheçamos que em todo o caso Vós estais lá. Não nos deixeis
sozinhos quando tendemos a desanimar. Ajudai-nos a não deixar-Vos sozinho.
Dai-nos uma fidelidade que resista no desânimo e um amor que Vos acolha no momento
mais extremo da vossa necessidade, como a vossa Mãe, que Vos abraçou de novo no
seu regaço.
Ajudai-nos, ajudai os pobres e os
ricos, os simples e os sábios, a ver através dos seus medos e preconceitos e a
oferecer-Vos a nossa capacidade, o nosso coração, o nosso tempo, preparando
assim o jardim no qual possa dar-se a ressurreição.
Décima Quarta Estação: Jesus é sepultado
Nós te adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e te bendizemos.
Porque pela Tua santa cruz
redimistes o Mundo.
Do
evangelho segundo São Mateus 27, 59-61: José pegou no corpo de Jesus,
envolveu-o num lençol limpo e depositou-o no seu túmulo novo, que tinha mandado
escavar na rocha. Depois, rolou uma grande pedra para a porta do túmulo e
retirou-se. Entretanto, estavam ali Maria de Magdala e a outra Maria, sentadas
em frente do sepulcro.
MEDITAÇÃO
Jesus, desonrado e ultrajado, é
deposto com todas as honras num túmulo novo. Nicodemos traz uma mistura de
mirra e aloés de cem libras destinada a emanar um perfume precioso. Agora na
oferta do Filho revela-se, como sucedera já na unção de Betânia, um excesso que
nos recorda o amor generoso de Deus, a «superabundância» do seu amor.
Deus faz generosamente oferta de
Si próprio. Se a medida de Deus é superabundante, também para nós nada deveria
ser demasiado para Deus. Foi o que o próprio Jesus nos ensinou no discurso da
Montanha (Mt 5, 20). Mas é preciso lembrar também as palavras de S. Paulo a
propósito de Deus, que «por nosso meio faz sentir em todos os lugares o odor do
seu conhecimento.
Somos, para Deus, o bom odor de
Cristo» (2 Cor 2, 14-15). Na putrefacção das ideologias, a nossa fé deveria ser
de novo o perfume que reconduz às pegadas da vida. No momento da deposição,
começa a realizar-se a palavra de Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: Se o
grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá
muito fruto» (Jo 12, 24). Jesus é o grão de trigo que morre.
Do grão de trigo morto começa a
grande multiplicação do pão que dura até ao fim do mundo: Ele é o pão de vida
capaz de saciar em medida superabundante a humanidade inteira e dar-lhe o
alimento vital: o Verbo eterno de Deus, que Se fez carne e também pão, para
nós, através da cruz e da ressurreição. Sobre a sepultura de Jesus resplandece
o mistério da Eucaristia.
ORAÇÃO
Senhor Jesus Cristo, na sepultura
fizestes vossa a morte do grão de trigo, tornastes-Vos o grão de trigo morto
que produz fruto ao longo de todos os tempos até à eternidade. Do sepulcro
brilha em cada tempo a promessa do grão de trigo, do qual provém o verdadeiro
maná, o pão de vida em que Vós mesmo Vos ofereceis a nós.
A Palavra eterna, através da
encarnação e da morte, tornou-Se a Palavra próxima: Colocais-Vos nas nossas
mãos e nos nossos corações para que a vossa Palavra cresça em nós e produza
fruto. Dais-Vos a Vós próprio através da morte do grão de trigo, para que nós
tenhamos a coragem de perder a nossa vida para encontrá-la; para que também nós
nos fiemos da promessa do grão de trigo.
Ajudai-nos a amar cada vez mais o
vosso mistério eucarístico e a venerá-lo – a viver verdadeiramente de Vós, Pão
do Céu. Ajudai-nos a tornarmo-nos o vosso «odor», a tornar palpáveis os
vestígios da vossa vida neste mundo.
Do mesmo modo que o grão de trigo
se eleva da terra como caule e espiga, assim também Vós não podeis ficar no
sepulcro: o sepulcro está vazio porque Ele – o Pai – não Vos «abandonou na
habitação dos mortos nem permitiu que a vossa carne conhecesse a decomposição»
(cf. At 2, 31; Sal 16, 10 LXX). Não, Vós não experimentastes a corrupção.
Ressuscitastes e destes espaço à
carne transformada no coração de Deus. Fazei com que possamos alegrar-nos com
esta esperança e possamos levá-la jubilosamente pelo mundo; fazei que nos
tornemos testemunhas da vossa ressurreição.
Pai Nosso, Ave Maria e Glória nas intenções do Santo Padre, para ganhar a Indulgência Plenária da Via Sacr